domingo, julho 31, 2011

Getulio Vargas

GETULIO VARGAS

...............Campanha presidencial de 1950, Anhangabau São Paulo, Getulio atraia multidões




...............................................................Aquele 24 de Agosto.................................................................

Estávamos no ano de 1954, eu com 15 anos estudava na escola SENAI Roberto Simonsen do Brás. Aquele ano estava muito conturbado com a política efervescente com Carlos Lacerda querendo a todo custo tirar Getulio Vargas do poder. Até então tudo corria bem, Getulio governava inaugurava obras.
Ai ele aparece inaugurando o instituto Butantan na cidade de São Paulo. Como sempre acompanhado pela sua filha Alzira Vargas.


A confusão politica começou no início de agosto de 1954, o chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas, Gregório Fortunato, por iniciativa própria ou a mando de algum político getulista, contratou capangas para assassinarem o principal líder da oposição, o deputado e jornalista Carlos Lacerda, um dos maiores responsáveis pelas críticas que eram feitas ao presidente.

Só que os tiros que seriam endereçados a Carlos Lacerda atingiu o peito do major da Aeronáutica, Rubens Vaz, o crime aconteceu na Rua Toneleiro 181 endereço do jornalista Carlos Lacerda, que após uma palestra numa universidade foi acompanhado pelo major da Aeronáutica, que o acompanhou justamente em caso de uma atentado contra o jornalista, e o tiro que era endereçado a Lacerda foi de encontro ao major da Aeronáutica. Aquele tiro contra o major “foi uma punhalada nas costas do presidente Getulio”, acusado pela UDN como mandante do crime
Filho de getulistas estava o par de tudo o que vinha acontecendo através da leitura de jornais e ouvinte assíduo de radio. No caminho da escola passando pela Praça da Sé, eu ia lendo todas as manchetes de jornais colocados nas bancas e dava uma desfolhada nas paginas mesmo com a cara feia dos jornaleiros.

No sábado dia 21 de agosto daquele ano estava sendo inaugurado o Parque do Ibirapuera, já com atraso devido às obras lentas. Estávamos adentrando o parque pelo portão nove, Rua Republica do Líbano (naquele tempo ainda AV. Indianópolis) eu, com minha mãe, meus irmãos, Teresa e José, minha tia Deolinda, e a prima Luizinha, já caminhando a beira do lago, quando uma jovem estudante com uma prancheta na mão veio até minha mãe pedindo para ela assinar a renuncia de Getulio Vargas.

Dona Orlinda getulista até o calcanhar mandou ela a p q p, e ameaçou agredi-la, não fosse à interferência de Deolinda minha tia. Mas a moça não passou sem uma bronca: Quem é você sua filha daquele para falar em tirar Getulio do poder. Aquele dia ficou até hoje na minha mente. Outro dia que também ficou, foi o dia 24, três dias depois daquela desfeita da moça contra minha mãe.
A coisa no palácio do Catete estava cada vês mais complicada, e a crise política ia ficando insustentável com Getulio se defendendo como podia da acusação de ter mandado matar o major Rubens Vaz. Eu acompanhava pelo radio e torcia para acabar tudo bem, pois Getulio já tinha sido deposto em 1945, e seria uma desmoralização ser deposto novamente.


No SENAI todo mundo sabia que eu era Getulista e um polemico politiqueiro, daqueles que discutia sabendo o que estava falando, e como bom taurino falando alto. Naquele dia 24 o professor da oficina veio até eu e disse: Mário, o Getulio suicidou-se. Minha indignação foi tanta que retruquei: O que o senhor disse professor? O Getulio se matou a coisa de 15 minutos, olha pela janela a fabrica do Matarazzo já está com a bandeira brasileira a meio pau. Em poucas horas os jornais estavam com edições extra.

Quando deu, nove horas que era à hora do café, o diretor da escola senhor Paes de Almeida, ligou o microfone do teatro que era a continuação do refeitório e anunciou que a aula estava suspensa naquele dia devido ao infausto acontecimento. Todos já sabiam do que tinha acontecido no Rio de Janeiro onde ficava a sede do governo. Em vês de tristeza viram-se fisionomias alegres por não ter aula aquele dia, e também foi anunciado que no dia seguinte dia do enterro não haveria aula também. Reunidos no refeitório o diretor disse para todos ir direto para casa, pois poderia haver distúrbio, de Getulistas fanáticos.
Foi a mesma coisa que dizer. Vão e façam muita farra: Aquele dia 24 de agosto de 1954 era uma terça feira já ensolarada às nove horas da manhã, os estavam bondes cheios quando deveria ser calmaria nos coletivos se ouvia uma gritaria com alguém dizendo vivo o Getulio que nos proporcionou um dia de folga. O radio divulgava boletins de meia em meia hora com noticias do Rio de Janeiro com o congresso em confusão onde o nome do jornalista Carlos Lacerda sendo dito como o culpado do triste acontecimento. Quando voltamos às aulas o Waldomiro estava triste por voltar ao “batente” e dizia com ar de tristeza: “Puxa, bem que o Getulio podia se matar de novo!”
O revolver usado pelo presidente, para o tresloucado gesto.

O mês de agosto estava fadado a ser o mês do desgosto, porque um ano depois, coisas tristes ainda aconteciam. Minha mãe me mandou ir à hora do almoço levar meu irmão na Rua Martins Fontes para ele tirar carteira de menor, e depois levá-lo no Clemente Ferreira na Rua da Consolação para tirar chapa do pulmão. Ele trabalhava na Casa da Bóia Rua Florêncio de Abreu, enquanto ele não saia para a hora do almoço eu estava num banco da Praça da Sé, com meio filão de pão com mortadela e um guaraná, mandando goela abaixo. A meu lado uma banca de jornal com o exemplar do jornal A HORA, mostrando a manchete com o que tinha acontecido no dia anterior. Morreu Carmen Miranda, era o dia 6 de Agosto de 1955.
Dias depois outra manchete estava nas primeiras paginas dos jornais. Café Filho, deixa o governo, saiu licenciado por “motivo de doença”, assumindo a presidência da Republica o presidente da câmara deputado Carlos Luz, que ficou apenas dois dias, pois um golpe estava sendo articulado entre ele, Carlos Lacerda e a turma da UDN (União Democrática Nacional) que foi descoberto pelo general Teixeira Lott. Pronto outra noticia que ia mexer com a vida de todos nos na escola. Novamente passando pela Praça da Sé as manchetes mostravam Presos todos da Republica do galeão. O golpe estava montado, e foi desmontado pelo general Teixeira Lott. Daí pra frente o presidente do Senado Nereu Ramos assumiu o poder até a posse de Juscelino Kubitschek que já tinha sido eleito um mês antes.
Nas duas horas de almoço quando funcionava o serviço de alto falantes que tocava musica e dava noticias das atividades da escola e, noticias advinda do radio ou jornais eram transmitidas nas duas horas de almoço e lazer dos alunos da escola naquele horário. O prefixo musical da programação diária era Paris Belfort. A situação política estava ficando cada vês mais feia e a cada noticia a ser dada vinha com aquele prefixo musical.
O golpe já estava fechado, quando o general Lott resolveu dar um fim na coisa, e outro dia de confusão também na escola, agora era a hora do café da tarde, quando novamente o diretor Paes de Almeida dispensou os alunos recomendando que todos fossem para casa sem parar no caminho. Foi a mesma coisa que dizer fique a vontade. Quando o bonde apinhado de alunos nos bancos e, nos estribos abarrotados de gente deu uma parada no Parque Don Pedro II, aconteceu à desobediência por parte dos alunos. Naquele local tinha um quartel do exercito com os praças fazendo trincheiras. Pronto: Aguçou a curiosidade de todos e o bonde ficou quase vazio. Os praçinhas cavavam o solo gramado fazendo uma valeta formando um circulo. Na verdade uma verdadeira burrice, pois se sabia que nada de mais aconteceria, e estavam estragando um lindo gramado onde a gente jogava bola, feita de crina e algodão na oficina de tapeçaria da escola. O jogo era sempre na hora do almoço ou às quatro horas da tarde onde o jogo só acabava quando estava escurecendo ou quando ela, a bola caia no Rio Tamanduateí.
Os anos 1950 deixaram muita saudade, outros iguais nunca mais.
A Carta Testamento
"Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão direito de defesa. (...) Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais posso vos dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. (...) Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História."

segunda-feira, abril 25, 2011

O Bixiga de todos

Autor: Mario Lopomo







Em 23 de junho de 1878, o jornal Província de São Paulo anunciava na sua primeira página: "Vendo por propostas todas as matas dos terrenos do bexiga pertencentes a


A. J. L. Braga e Companhia". Estava dada a largada para o nascimento do bairro mais emblemático da capital: o Bixiga.


Nessa época a capital já experimentava o crescimento com a chegada dos imigrantes; os italianos que não toparam a aventura ingrata de colher café no interior se interessaram pelos terrenos e aproveitaram os preços baixos - para lá, se mudaram em bando.


Por coincidência, a área era rodeada de Ruas estreitas com 60 palmos de largura e aclives lembrando bem as pequenas aldeias da Itália.


A maioria dos estabelecidos eram italianos calabreses, que logo perceberam na nascente metrópole a falta de mão-de-obra especializada.


La foram eles: sapateiros, artesãos, padeiros, quitandeiros - e tudo mais que um simples meio de sustento. A partir de 1890, o bairro experimentou uma nova onda de crescimento com chegada de mais imigrantes: portugueses, espanhóis e mais e mais italianos. Isso sem contar os negros recém libertados.


No início era uma imensa torre de Babel onde ninguém entendia ninguém, mas acabaram se acostumando uns com os outros e a coexistência foi pacífica. Os primeiros registros referentes ao Bixiga são de 1559, e dão conta de uma grande fazenda chamada Sítio do Capão, cujo dono era o português Antônio Pinto (capão é uma porção de mato isolado no meio do campo). Décadas mais tarde o local passou a se chamar Chácara das Jabuticabeiras, devido ao grande número de frutas existente nas imediações.


Já na segunda década do século 18, o local pertencia a Antônio Bexiga.


Ao que parece o proprietário fora vítima da varíola - bexiga era o nome popular da doença e os enfermos eram conhecidos como bexiguentos. Não foi todo mundo que gostou do Bixiga - é bom lembrar que o "e" da palavra Bixiga passou a "i" devido à boa fala popular. Em 1819, um viajante francês chamado Saint Hilaire, percorreu grande parte do Brasil, inclusive São Paulo, e depois publicou um livro a respeito.


Nele escreveu que a única estalagem da cidade era a de um português alcunhado de "Bexiga", e que era imunda - fora então pernoitar na chácara Água Branca, em Pinheiros. Para muitos o bixiga começa na Praça da Bandeira (que era conhecido no começo do século XX, como largo do Piques, devido às inundações, que dificultavam a passagem com o barro que se formava).


Quando você sobe o morro pela Rua Rocha esta lá em cima, e de lá, você tem uma bela vista da cidade, da Avenida Nove de Julho, da Rua Paim, da Praça 14 Bis, do Vale do Anhangabaú, e de outros rincões que sua vista alcança. Será que foi por isso que o Bixiga é chamado de Bela Vista? O bixiga dos Italianos.


A Bela Vista mais conhecido com o Bixiga, foi o local escolhido por uma grande parte da colônia italiana. E faz muito tempo, Isso desde imigração italiana em que eram acolhidos no Brás, os que não iam para a lavoura e ficavam na capital paulista tinham dois destinos permaneciam no Brás, ou iam para o Bixiga.


E para lá foram muitos sapateiros, marceneiros padeiros, e tapeceiros, artesões que conservavam o trabalho do artesanato de estilo europeu, que vingou por muitos anos aqui em São Paulo. Era um tempo de uma boa convivência entre os povos esportistas os italianos continuavam suas origens torcendo pelo Palestra Itália, depois Palmeiras, de ouvidos colados no radio depois do macarrão da Mama, acompanhado das porpetas e bracciolas. Depois do jogo com cadeiras na calçada, lá estavam às famílias de italianos e brasileiros e quem de outras nacionalidades estivessem, todos conversando animadamente, com o rádio ligado na Tupi ouvindo com som alto o programa festa na roça apresentado por Lulu Belencazzi um Oriundi.



O Bixiga dos negros



A comunidade negra era volumosa no bixiga. Era o contraponto dos italianos em termos de futebol, a maioria era corintiana. Quando jogava Palmeiras e Corinthians, era uma festa de vitrolas, cada uma tocando o hino de seus clubes. Era uma festa de xingamentos tudo na base da amizade. Tetsuno, pra cá e peidorreiros para lá.


Depois do jogo sempre tinha alguém de cabeça inchada, e naqueles anos 1950, o Corinthians levava sempre vantagem ficando o periquito anos na fila das derrotas. Mas com toda essa rixa futebolística a convivência entre italianos e brasileiros era boa.


A comunidade negra tinha como a maior bandeira do Bixiga o cordão do Vai Vai, que ao final dos anos 1960, quando o carnaval foi oficializado, virou escola de samba e ganhou muitos títulos de carnavais. Escola de muitos amigos do peito, como a família Galvão.


Do senhor Pedro Galvão. De seus filhos, Getulio, Mario e Pedro (Bombeirinho). De Tobias, e muitos outros.No Bixiga, dois clubes de futebol eram bastante respeitados na várzea paulistana.



O Boca Juniors, que tinha como jogador o cantor Agostinho dos Santos, e por causa de uma cisão nasceu o Aristocrata Clube. Um clube somente magnífico clube somente de negros e com uma estrutura de fazer inveja. Era um clube que mostrava o desenvolvimento da raça negra. Vários doutores entre eles juises, desembargadores e advogados, estavam sempre onde o clube ia jogar. Gente alegre e educada.


Onde a batucada era o refrão que fazia todos gingar. Tornou-se um clube tão bem administrado que não demorou muito adquiriram um belo clube de campo em Parelheiros, eu mesmo testemunhei quando o clube de veteranos que eu acompanhava foi lá jogar.


Dava gosto ir até o Aristocrata éramos recebidos por gente muito educada. Mais uma vês recordo as vezes que ia lá quando garoto e jovem. Subindo a Rua Rocha ainda de terra com barro ou poeira chegando La em cima se tinha uma bela vista da cidade, da Avenida Nove de Julho. E de outros rincões que sua vista alcança. Será que foi por isso que o Bixiga é chamado de bela vista?Seja lá como for o Bixiga é um bairro que todos conhecem se não lá tiveram, pelo menos de ouvir falar, através do cinema ou da televisão, o Bixiga sempre esteve à vista de todos, graças a uma boa mídia que lhe foi dado. O bixiga sempre teve seus divulgadores, divulgadores.



Era lá que Amacio Mazzaropi gostava de fazer seus filmes. A carrocinha, o Corintiano, por exemplo, foram rodados lá, os filmes mostravam ruelas e cortiços que o era uma coisa muito no inicio da década de 1950.









Adoniram Barbosa também enalteceu o Bixiga com a musica “samba do Bixiga”. Foi lá que nasceu o Cantor Agostinho dos Santos. Mais precisamente na Rua Santo Antonio. Onde viveu até sua morte ocorrida a 11 de julho de 1973, devido a um acidente de avião nas proximidades do aeroporto de Orly, em Paris (França).


Agostinho gostava de jogar futebol. Não jogava tão bem quanto cantava. Mas mesmo assim envergou as camisas do Boca Juniors e Aristocrata Clube.



.........................................................................................Armandinho do Bixiga




Mas quem mais amou e divulgou o Bixiga foi Armando Puglisi. (O Armandinho do bixiga). Que muito cedo nos deixou.


Armandinho amava o Bixiga como ninguém, ele foi o pioneiro do que hoje se chamam agentes culturais. O Bairro que nasceu como não podia deixar de ser, no mais significativo dos bairros culturais de São Paulo: o Bixiga.


Descendente de italianos Armandinho nasceu com ajuda de parteira em 1931, em uma casa na Rua dos Ingleses. Cresceu, brincou, estudou, trabalhou, fez amigos, casou, sambou, e agitou, o bairro como poucos para não dizer o único, sempre amando o bairro do Bixiga. Criou o Museu do Bixiga, criou também o museu do óculos que tinha seu local na Rua dos Ingleses, reunindo peças do cotidiano da vida do bairro, e participou de todos os movimentos para elevar o nome do lugar, que nasceu e amou por toda sua vida, inclusive assíduo freqüentador do Bloco dos Esfarrapados, e da Vai-Vai. Armandinho foi o que inventou em fazer um bolo do tamanho do ano de aniversario da cidade de São Paulo.

terça-feira, abril 05, 2011

A Tragédia do Cine Oberdan Atenção: Algumas imagens ao decorrer deste artigo poderão ser fortes para pessoas mais sensíveis a imagens de mortos, este material também não é recomendado a crianças. Inaugurado em 1927, o Cine Oberdan foi projetado para ser majestoso desde sua concepção, um prédio magnífico na rua Firmino Whitaker, no então efervescente bairro do Brás. O Cine Teatro Oberdan em 1940 (clique para ampliar).

Elegante e imponente, o Oberdan era um empreendimento da Sociedade Italiana Leale Oberdan e posteriormente foi vendido para a Empresa Teatral Paulista. O Oberdan foi um cinema que impressionava pelo luxo em suas escadarias, na sala de exibição, no hall e principalmente em sua fachada. No seu interior, o teto era decorado com azulejos portugueses, haviam estátuas decorando o hall e sua cúpula era muito semelhante a do nosso Teatro Municipal. O nome da sala, é uma homenagem ao anarquista italiano Guglielmo Oberdan, cujo busto ainda é encontrado na fachada lateral do velho cinema. Rosto de Gugliemo Oberdan, mártir da unificação italiana, na fachada do cinemaO que os proprietários do cinema não poderiam imaginar é que 11 anos depois de sua inauguração a sala seria palco da maior tragédia infantil de São Paulo, e que seria palco de mudanças nas regulamentações das salas de cinema de São Paulo, a Tragédia do Cine Oberdan. A matinê do dia 10 de abril de 1938 não exibia um filme de terror, mas as cenas que foram vistas naquela tarde dentro do cinema, com certeza serviriam de roteiro para os típicos filmes-catástrofes. A sessão estava lotada, boa parte por crianças, e na tela era exibido o filme “Criminosos do Ar”. Já estava quase no final do filme, quando uma cena mostra dois aviões chocando-se no ar. Foi neste momento que alguém na plateia gritou “FOGO!”, provavelmente em alusão ao filme e que foi o estopim para que iniciasse uma correria desesperada para fugir da sala (* esta é a versão oficiosa, veja a versão da polícia para o incidente logo abaixo). A correria e o pânico tomou conta da enorme sala de cinema, que comportava 1600 pessoas. Apesar da sala ser assim grande, suas saídas não eram pensadas para situações de pânico e as saídas rumo ao hall se davam por duas estreitas escadarias. Não demorou para que crianças desesperadas fossem correndo para estas escadas, juntamente com adultos. Nesta hora, não houve cavalheirismo e nem gentilezas, foi um salve-se quem puder frenético. E o que aconteceu em poucos minutos foi um massacre ocasionado pelo pânico. Planta do Oberdan, o nome das ruas não correspondem aos atuais Até que percebessem que o alarme era falso, foram momentos de total loucura. Crianças se atiravam pelas escadarias tentando fugir do suposto fogo, mas eram ultrapassados por adultos que, mais fortes, tomavam a dianteira. Sapatos, chapéus, carteiras, tudo era deixado para trás. Quando o socorro chegou ao local, a cena encontrada na porta do cinema era de um horror inimaginável. Inúmeras pessoas feridas pelo chão, muito sangue e um amontoado de cadáveres de crianças que não conseguiram correr e foram pisoteadas.

Nas estreitas escadarias, pertences foram deixados para trás. Brasiliense Carneiro, o chefe da polícia na época, foi imediatamente ao local e tratou de providenciar a remoção dos feridos para a Santa Casa de São Paulo, na região central. Algumas crianças ainda foram levadas com vida, mas acabaram por falecer no hospital. O impacto à tragédia foi tão grande que despertou reações por toda a cidade, do governador a populares. Protocolo de comunicação telefônica com detalhes do ocorrido (clique para ampliar). Imediatamente após a tragédia, o cinema foi interditado e a polícia iniciou uma grande perícia no local aproveitando para interrogar alguns dos sobreviventes. Foi aqui que apurou-se um outro fato que talvez tenha levado ao pânico e aos gritos de “fogo!”. A verdadeira versão para a tragédia: Sempre que se pesquisa sobre a trágico acontecimento do Cine Oberdan, a razão do grito de fogo e o pânico que desencadeou-se em seguida sempre é atribuída à cena do filme onde há o choque de aviões no ar. Esta versão, no entanto, é equivocada. A polícia conseguiu apurar os fatos com rigor e descobriu que tudo começou devido a uma diarreia. O banheiro do cinema, onde tudo começou Um garoto estava passando muito mal e precisa ir urgente ao banheiro, mas o lanterninha não aparecia. Ele teria começado a ficar tenso porque no final da exibição todos vão ao banheiro e o mesmo fica com grande fila.

Cansado de esperar, ele decidiu aproveitar os minutos finais e se dirigiu até o sanitário, mas não chegou a tempo fazendo parte de suas necessidades pelo caminho. Ao chegar no banheiro, encontrou outra surpresa: as luzes estavam desligadas.


Foi ai que o garoto teve a ideia de pegar um fósforo e colocar fogo em um punhado de jornais para poder enxergar o que estava fazendo, deixando a porta do banheiro entreaberta para também pegar um pouco da luz da tela. Teria sido neste momento que alguém viu as chamas pela porta do banheiro e gritou “fogo”. No banheiro, a perícia realmente encontrou os jornais queimados e a bermuda do menino que serviu para a conclusão do caso. As evidências encontradas no banheiro

Famílias destruídas: O trágico acontecimento destruiu inúmeras famílias. Muitos pais perderam um filho, e houve até quem perdesse dois. As mortes que mais chocaram foram a dos irmãos Pricolli (de 12 e 8 anos) e do menino Enrico Mandorino, cuja morte sua mãe sentiu-se culpada vivendo enlutada até morrer no início dos anos 1980. Em entrevista décadas atrás, sua mãe contou que o jovem Mandorino queria naquela tarde ir ao jóquei, que na época ficava no bairro da Mooca. Ela achou perigoso e deu a ordem que fosse divertir-se no cinema, ele não voltaria mais. Na tragédia do Cine Oberdan morreram 31 pessoas. Destas, 30 eram crianças. A única pessoa adulta a falecer no terrível incidente do Brás foi uma mulher chamada Maria Pereira. A história da morte desta mulher é um caso de uma mãe que instintivamente fez de tudo para salvar um filho da morte. Ela estava no cinema junto de sua pequena filha de colo, chamada Joanna. Quando começou a correria ela também tentou fugir mas foi derrubada próxima das escadarias do cinema. Para que sua filha ainda bebê não morresse esmagada ela ficou curvada no chão protegendo sua filha sob seu corpo. Maria Pereira, mãe de sete filhos, morreu esmagada, mas conseguiu salvar a pequena “Joaninha”. A pequena Joaninha, mãe deu a vida para salvá-la Como o fato deu-se numa matinê, muitas das crianças que morreram eram das vizinhanças. Era rápido e fácil chegar ao cinema, veja abaixo a relação dos mortos do Oberdan e onde eles moravam: Francisco Trento (13 anos) – Endereço: rua Claudino Pinto, 167 Walter Pricoli (12 anos) e Pedro Pricoli (8 anos) – rua Maria Joaquina, 90 Nelson Paulo de Souza (10 anos) – rua Oriente,599 Waltova Gonçalves (17 anos) – rua Carlos de Campos, 82 Apparecido Bertolato (15 anos) – rua Müller ,23 Waldermar Silva (11 anos) – rua Oriente, 567 Maria Pereira (45 anos) – Residia em Guarulhos Armando Vavá (8 anos) – rua Coronel Cintra, 67 Rubens (14 anos) – rua Coimbra, 43-B Mario da Conceição (16 anos) – rua Coimbra, 39 Ferdinando Machado (14 anos) – rua Coronel Machado, 105 Joaquim de Souza (13 anos) – rua Ricardo Gonçalves, 70 Salvador Aurungo (11 anos) – rua Visconde de Parnaíba 1993 Waldomiro Lima (12 anos) – rua Itaquera, 8 Nicolau (12 anos) – rua Almeida Lima, 171 Jayme (10 anos) – rua Rio Bonito, 22 José (14 anos) – avenida Celso Garcia, 1130 Antonio (10 anos) – rua Barão de Ladário, 270 Plácidio (9 anos) – rua Claudino Pinto, 167 Orlando (11 anos) – rua Rio Bonito, 58 Miguel (12 anos) – Travessa Particular, 12 Armando Alegre (15 anos) – rua Oriente, 31 Miguel Garcia (13 anos) – rua Durvalina, 6 José Moreno (11 anos) – rua Santa Rita, 382 Adelino Fontes (15 anos) – residia no bairro de Itaquera João Fontes (sem idade declarada) – residência desconhecida Antonio Bonifacio (13 anos) – rua Maria Carlota, 6 Milton Casale (12 anos) – rua Celso Garcia, 221 – casa 10 Enrico Mandorino - Dados desconhecidos

O Funeral: Todos os corpos foram levados para o necrotério do Cemitério do Araçá, onde passaram por perícia. À medida que foram sendo liberados os corpos constatou-se que muitos dos pais não estavam preparados para enterrar seus filhos. Foi ai que o poder público decidiu por um enterro coletivo e todas as vítimas fatais foram sepultadas em uma cerimônia única em uma área do Cemitério do Brás (Quarta Parada). Uma mãe vai ao necrotério reconhecer o corpo de seu filho Neste dia, de grande comoção, a Associação Comercial de São Paulo, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e o Sindicato dos Empregados das Indústrias entraram em acordo e praticamente a cidade parou para que todos acompanhassem o funeral. Segundo o relato de jornais da época foi uma multidão gigantesca. O Cinema: Apesar do triste incidente, o Cine Oberdan ainda continuou em atividade por muitos e muitos anos, encerrando suas atividades no final dos anos 1960. O prédio ficou fechado por alguns anos até que em meados nos anos 1970 foi transformado em uma loja da Zêlo. Eles mantém o prédio preservado até os dias de hoje. O Cine Oberdan em 2010, local permanece preservado. Uma tragédia como esta provocou mudanças nas leis municipais relacionadas aos cinemas. Até o incidente, as travas das portas das salas de cinema eram muitas vezes pelo lado de fora, sendo que não era raro encontrá-las trancadas durante o filme para que impedir que algum malandro entrasse sem pagar. A lei exigiu que não se trancasse mais as portas e que as travas eventuais fossem pelo lado de dentro. Também aumentou-se o rigor quanto a segurança do público e a iluminação de corredores, mas para o Oberdan e seus 31 mortos isso veio tarde demais. Veja outras fotos da tragédia (clique para ampliar):Atenção: Algumas cenas são muito fortes, não recomendado para pessoas sensíveis e crianças. Jornal Folha da Noite dá destaque à tragédia. Raríssima vista interna do cinema (1938). O Cine Oberdan em 1983, já como loja Zêlo. Alguns dos corpos de crianças que faleceram no Oberdan. Corpos aguardam reconhecimento no necrotério do Araçá.


Pai beija corpo de filho morto no Cine Oberdan. Ao reconhecer os corpos familiares se desesperam. Garota chora ao lado do corpo de seu irmão.


















Por: Douglas Nascimento em 12/01/2011

quarta-feira, março 23, 2011

Ruth Correia Leite Cardoso
Ou simplesmente Ruth Cardoso nasceu na cidade de Araraquara estado de São Paulo, em 19 de setembro de 1930. Doutora em antropologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Ruth Corrêa Leite Cardoso foi pioneira no reconhecimento da emergência, na década de 1970, dos movimentos sociais que abrigavam minorias por questões de gênero, étnico-raciais ou de orientação sexual.
O trabalho da antropóloga pôs em pauta a pesquisa sobre esses movimentos no meio acadêmico brasileiro.
Ruth Cardoso formou-se pela USP em 1952. Lá desenvolveu a fase inicial de sua carreira acadêmica, foi lá que conheceu Fernando Henrique Cardoso, com quem se casou em 1953. Seis anos depois concluiu o mestrado e, em 1972, o doutorado, com a tese "Estrutura Familiar e Mobilidade Social: Estudo dos Japoneses no Estado de São Paulo". Sua vida universitária foi interrompida pelo golpe militar de 1964, que levou o casal ao exílio no Chile e na França.
Durante o exílio e depois dele, Ruth Cardoso atuou em instituições como Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso/Unesco), Universidade do Chile (Santiago do Chile), Maison des Sciences de L'Homme (Paris), Universidade de Berkeley (Califórnia) e Universidade de Columbia (Nova York). Foi também professora da Universidade de São Paulo e diretora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
Comunidade Solidária

Com a vitoria de Fernando Henrique para presidente se tornou a primeira dama do pais, titulo que ela fazia questão de ignorar. Nos oito anos em que esteve no poder ao lado do marido, dona Ruth - como passou a ser chamada - decretou o fim da LBA (Legião Brasileira de Assistência), entidade assistencialista, tradicionalmente presidida por primeiras-damas (título de que ela não gostava e preferia não assumir), chegou a não aceitar a intromissão de uma estilista que queria confeccionar seus vestidos.
Como resposta a estilista ouviu dela que preferia ficar com seu tailleur normal que ela adorava usar. Foi a primeira dama mais simples e adorada pelo povo.
Fundou e presidiu o Comunidade Solidária, que tinha como foco o fortalecimento da sociedade civil. Para garantir a continuidade dos programas gerados nessa entidade, criou a organização não-governamental Comunitas, em que permaneceu atuante até o fim da vida.Entre seus cargos de destaque, presidiu o conselho assessor do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) sobre Mulher e Desenvolvimento, foi membro da junta diretiva da UN Foundation e da Comissão da OIT (Organização Internacional do Trabalho) sobre as Dimensões Sociais da Globalização e da Comissão sobre a Globalização.
Feminista declarada, a favor do aborto (que considerava uma liberdade feminina), apaixonada pela cozinha e, a princípio, contrária à carreira política de FHC (com quem não se mudou para Brasília quando ele trocou a universidade pela política em 1982), Ruth Cardoso defendia firmemente seu direto à privacidade. Considerava que dar publicidade a sua vida pessoal ou familiar era "misturar o público e o privado".

Doutora Ruth (como gostava de dizer seu marido) morreu de um infarto fulminante, no dia 24 de junho de 2008, aos setenta e sete anos de idade em sua residência, pouco depois de receber alta do hospital onde fora submetida a um cateterismo, dois dias antes.
Ela conviveu com problemas cardíacos nos últimos dez anos de vida e já havia passado por duas cirurgias para a implantação de "stents" (próteses metálicas colocadas no interior das artérias coronarianas para a desobstrução do fluxo sangüíneo).

quarta-feira, março 16, 2011

Eleição para presidente 1950
O governo do presidente Eurico Gaspar Dutra esta chegando ao fim e o Brasil vai para sua segunda eleição livre. Após o rotundo fracasso do futebol brasileiro na copa do mundo realizado no Brasil. Os políticos vinham para a eleição em baixa, sob a acusação de culpados pela derrota do futebol por ficar até altas horas da madrugada pegando autógrafos e sendo fotografados com os “campeões do mundo”. Seriam subsídios valiosos para as campanhas políticas. Mas deu tudo errado. Então cada qual tinha que mostrar serviço de sua área a política.








Quase dois anos depois de sua deposição Getulio Vargas quebrou o silencio. Procurado pelo repórter Murilo Antunes Alves da Radio Record, em sua fazenda em Itu, (RS) as vésperas de mais um 1.o de maio, depois de muita insistência do repórter, mandava uma mensagem aos trabalhadores do Brasil. “Que vos posso dizer senão que as leis sociais não foram revogadas, mas não estão sendo rigorosamente aplicadas ? (...) É preciso apenas viver para poder esperar. Venho trabalhadores, trazer-vos, com minha vos, a presença do ausente, porque senti em vossos corações a ausência dos presentes” .

Era mais do que certo que Getulio Vargas seria candidato a presidente da Republica na eleição de 3 de Outubro de 1950. A política começou a fervilhar mesmo foi no inicio de segundo semestre, passado as emoções do futebol.


A televisão ainda não tinha sido inaugurada. (seria em outubro daquele mesmo ano). Na radio tupi por exemplo, Manoel de Nóbrega e Aloísio Silva Araújo, faziam criticas ao governo com aquele humor satírico, muito próprio do texto de Nóbrega, no programa cadeira de barbeiro. Jornais e revistas por sua, vês mostravam as obras de seus cartunistas.


Quando se falava na volta de Getulio seus opositores se lembravam da censura a que eram submetidas textos de jornais, revista e teatro e de musicas. Tudo tinha que passar pelo DIP. (departamento de imprensa e propaganda) tinha gente que se lembrava do corte que feito a uma letra da musica de Ataulfo Alves e Wilson Batista, cujo titulo era O BONDE SÃO JANUARIO, considerada uma exaltação a malandragem. A letra desta musica dizia: QUEM TRABALHA È QUEM TEM RAZÃO, EU DIGO E NÃO TENHO, O BONDE SÃO JANUARIO CARREGA SEMPRE UM OTARIO. Segundo ficou-se sabendo, a letra teve que ser mudada para, O BONDE SÃO JANUARIO CARREGA SEMPRE UM OPERARIO.

Mas quem se vingou mesmo do Getulio, foi o compositor Nàssara, que logo depois da queda de Getulio em 1945. Compôs uma musica em que a letra dizia isto: EU ASSISTI DE CAMAROTE, O SEU FRACASSO, PALHAÇO! PALHAÇO! Tinha também os artistas palacianos, cantoras e vedetes do teatro rebolado, e para eles, Roberto Martins e Frasão, compunham a marchinha carnavalesca. E O CORDÃO DOS PUXA SACOS, CADA VEZ AUMENTA MAIS.


.........................................Grupo denominado de Queremistas, pedindo a voltaEm 15 de junho, Ademar de Barros lança a candidatura de Getulio Vargas à presidência da republica. Mas como o povo estava com sua atenção voltada para a copa do mundo de futebol, realizada aqui no Brasil, não houve muita repercussão. Mas mesmo assim, depois de um discurso inflamado, estava firmado o acordo PTB/PSP, neste acordo Ademar impunha a candidatura de Café Filho para vice-presidente, o que foi confirmado.
Aos poucos o povo ficava sabendo quais era os candidatos a presidente da republica e também de governadores, deputados e senadores. O povo já tinha perdido o medo de discutir política como no tempo da ditadura em que “espiões” levavam recados aos órgãos de repressão. Em agosto, a candidatura de Getulio Vargas era registrada no TSE (tribunal superior eleitoral) e ate as vésperas da eleição Getulio pronunciaria 65 discursos em diferentes cidades. As discussões começavam a ficar, acaloradas. Meu pai e minha mãe eram Getulistas roxos. Todos os vizinhos ali da redondeza onde eu morava (Itaim bibi) também eram Getulistas, todos trabalhadores de classe media baixa.
Somente seu Fiori o sapateiro (autônomo) da rua do porto, e que não era muito afeito à política, talvez pelo fato da mulher dele a dona Carmem, andar sempre bem vestida, o pessoal confundia ela com burguesa, portanto adeptos da UDN.
A dona Elvira a mais fanática de todos e que era chamada de “Maria vai com as outras”, uma hora dizia uma coisa, posteriormente ao contrario. Na Rua onde morávamos ela se dizia Getulista. Quando estava na igreja Santa Terezinha no meio das carolas dizia que era adepta da UDN.


................................Um bom candidato não pode se esquecer das crianças, Getulio se lembrou disso
Agora, quem era da UDN mesmo, era a família Cunha, seu Alfredo e Dona Palmira, professores do grupo escolar Aristides de Castro, considerados caixa alta em termos de salários. Seus filhos Geraldo Cunha, radio-ator das novelas da radio São Paulo, Tite seminarista que largou a batina às vésperas de ser padre, para se tornar advogado, e a Rosinha eram todos adeptos da UDN. Seu Alfredo ficava injuriado em ver o grande numero de pessoas que diziam votar em Getulio, estava ele sempre nas redondezas discutindo política, que rendo meter na cabeça dos outros a não votar em Getulio. Para ele o Brigadeiro Eduardo Gomes era o mais serio de todos e não era ladrão. É uma pena a falta de consciência política do nosso povo. Acabamos de sair de uma ditadura brava, onde não se podia falar nada. Seu Antonio marido de dona Laura dizia que com ele ninguém mexeu. É só não se meter com política que não acontece nada com a gente, dizia ele. Já meu pai dizia que Getulio foi quem tirou o trabalhador da escravidão, deu a carteira de trabalho exigiu que fossemos registrado, nos deu os sindicatos onde temos a quem recorrer quando o patrão quer nos esbulhar. Ele também deu direitos a mulher disse dona Elza. Se não fosse ele nos não votaríamos até hoje.
Mas seu Alfredo tinha seus argumentos: Para ele havia o perigo de outra ditadura, Não podemos também esquecer as maldades que foi feito por ele e sua camarilha se aproveitando da Guerra. Das torturas a quem era de origem Italiana, Japonesa e Alemã. Getulio pessoalmente participava dessas barbaridades queimando os seios das mulheres com a brasa do charuto. Sem contar com a ordem que deu a Filinto Muller em extraditar Olga Benario para se vingar de Luiz Carlos Prestes. Isso vocês não vê?
O jornalista Carlos Lacerda, colocava na primeira pagina do seu jornal Tribuna da Imprensa algumas ameaças, no dia 1 de junho de 1950. “O senhor Getulio Vargas, senador. Não deve ser candidato à presidência.” Candidato não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”. A essa altura a campanha já estava pegando fogo. Perto da minha casa na rua da ponte (hoje, rua Clodomiro Amazonas) no bairro do Itaim bibi, tinha um comitê político do PTB, com alto falante no bico do telhado de duas águas. que ficava o dia inteiro tocando a musica de campanha do Getulio. “PRESIDENTE GETULIO, ADEMAR SENADOR, E LUCAS GARCES, PRA GOVERNADOR, È PTB È PSP, OS DOIS ESTANDO JUNTOS NOS VAMOS, VENCER”. Enchia o saco ter que ouvir isso o dia inteiro. Mais à frente na esquina da rua Iaiá, (nome que se mantém até hoje) tinha um sobrado em que sua lateral foi aproveitada para fazer uma tela de cinema, onde o comitê do PTB, exibia filmes para o povão, sempre aos sábados à noite. O primeiro filme a ser apresentado foi o CONDE DE
MONTE CRISTO, como trailer.

....................................................Getulio arrastava multidões em seus comicios Era exibido filme de reportagens sobre as atividades de Getulio. Como sua estada em Natal (RN) ao lado do presidente dos estados unidos Franklin Roosevelt, assinando a escritura do terreno para a construção da base militar dos Estados Unidos.
Alem da campanha para presidente, tinha também para governador. O governador Ademar de Barros, apoiava o professor Lucas Nogueira Garcez, e era candidato a senador por São Paulo. Estando na chapa de Getulio, Garcez era tido como barbada. Porem correndo por fora, vinha Hugo Borgui, e sua candidatura crescia a olhos vistos. Borgui se dizia o legitimo representante do trabalhador, sua marchinha de campanha, era assim.
DEIXA PASSAR O TRABALHADOR, DEIXA O TRABALHADOR PASSAR, O SENHOR, O SENHOR, QUE NÃO TRABALHA, SÒ ATRAPALHA, SO ATRAPALHA. SOU MARMITEIRO E NÃO POSO ME ATRASAR, SAI DA FRENTE, SAI DA FRENTE BALTAZAR, QUE ÈSSA SOPA, VAI SE ACABAR, VAI, VAI.
Aquela conversa de Zé Marmiteiro, estava cada vês mais na boca do povo, e essa popularidade que Hugo Bhorgui vinha conseguindo, já estava incomodando Ademar. Numa Sexta feira, Garcez foi para o interior fazer um comício, de campanha, e seu avião ficou desaparecido. A falta de noticias, preocupou seu partido e Ademar tomou todas as providencias, para a localização do avião possivelmente com seus ocupantes vivos. Amanheceu o Sábado, e nada de noticias, a tensão ia ficando cada mais forte, e nas hostes do PSP, seus membros não queriam nem pensar em uma possível tragédia. Uma hipótese dessa a vitória do partido iria para o brejo. Logo depois do almoço o Nacarelli,um pintor de paredes que morava nas proximidades, ao passar em frente nossa casa, viu meu pai no portão, e foi logo falando. Seu Ângelo. acho que o Garcez se fodeu. Meu pai emendou logo a seguir. Que nada Naca, isso ai è uma armação desse vagabundo do Ademar, è pura encenação política. Ele esta vendo que seu afilhado político pode perder a eleição, inventou esse papo.
-- O senhor não gosta mesmo do Ademar, hein seu Ângelo.
--Não gosto mesmo Naca ! A única pessoa que me agrada no palácio dos Campos Elíseos, è dona Leonor. Essa sim è uma grande pessoa, tem um grande coração, ela praticamente sozinha, cuida dos sanatorinhos de Campos de Jordão. Na verdade o Ademar não merece a mulher que tem, ele só fica com ela em tempos de eleição, quando não tem, ele vai com as putas.
Lá pelas quatro horas da tarde, veio à boa noticia, o avião fora encontrado, e não havia vitimas, e a chegada de Garcez, ao aeroporto de congonhas, estava previsto para as 7 hz da noite. O aeroporto ia ficando cada vês, mais cheio de gente, a espera chegada do avião trazendo o candidato do PSP.
Alem da imprensa, estavam presentes, autoridades, civis, militares e eclesiásticas, e mais, os bicos de sempre, entre eles, alguns punguistas.
Quando o avião trazendo Garcez, desceu em congonhas, foi uma tremenda festa, gritos de vivas eram dados, fogos, beijos e abraços.
Em casa estávamos todos, ouvindo a reportagem do TICO TICO, na radio bandeirantes, quando por incrível que pareça, meu pai escutou o barulho do beijo, que a mãe do Garcez deu nele. Coisa de louco!
Na convenção da UDN realizada no teatro Coliseu foram homologadas
As candidaturas do brigadeiro Eduardo Gomes para a presidência da republica e de e Prestes Maia para governador de São Paulo.
Enquanto isso Ademar de Barros era considerado inelegível como candidato a senador, por não ter se desincompatibilizado três meses antes do dia da eleição, desrespeitando o art. 139 da constituição. O TRE, (Tribunal Regional Eleitoral) acolheu o pedido do Sr. Adauto Lúcio Cardoso que também concorria a esta vaga pela UDN. Já próximo da eleição, o Tonelli que tomava conta do comitê do PTB no Itaim, foi lá em casa pedir para meu pai deixar eu distribuir cédulas do Getulio no dia das eleições.
--Seu Ângelo. Posso pegar seu menino maior, para distribuir cédulas no dia da eleição ?
--Claro que pode Tonelli, você acha que eu ia impedir que meu filho de participar de um ato de civilidade como este! Mesmo porque ele vai distribuir as cédulas da nossa vitória. Nos últimos dias que antecediam as eleições, os candidatos queimavam seus últimos cartuchos. O jornal O Estado de São Paulo que torcia com denodo para os candidatos da UDN, publicava na véspera do pleito, em seu editorial, o seguinte: Sem, Eduardo Gomes e Prestes Maia, que podemos esperar do Brasil e de São Paulo, amanhã ?
Na convenção da UDN realizada no teatro Coliseu foram, homologadas as candidaturas do Brigadeiro Eduardo Gomes e Prestes Maia. para presidente da republica e governador de São Paulo, respectivamente.
3 de outubro, dia da eleição caiu numa Terça feira, o “Estadão” publicou, em suas paginas. “O brigadeiro cimentou sua vitória no Rio com o discurso do esplanada maiores do que nunca as possibilidades de Eduardo Gomes na capital federal. Um discurso corajoso, sincero, e humano que repercutiu profundamente no seio da massa trabalhadora. Cristiano Machado na seção livre da Folha da Manhã (hoje Folha de São Paulo) apresentou uma matéria paga, com as seguintes linhas:
QUANDO SÃO PAULO E MINAS. ESTAVAM JUNTOS, TUDO ANDOU BEM NO BRASIL. QUANDO SÃO PAULO E MINAS SE SEPARARAM, TIVEMOS ANARQUIA E A DITADURA, A DESONESTIDADE ADMINISTRATIVA E O CONFISCO DOS BENS DOS ESTRANGEIROS. COM CRISTIANO MACHADO NA PRESIDENCIA DA REPUBLICA. O BRASIL ENDIREITARÁ DE NOVO, PORQUE ELE É MINEIRO, E FOI SEMPRE AMIGO DE SÃO PAULO.
Na mesma pagina outra matéria paga, desta feita produzida pelo PTB e PSP, dizia: TRABALHADOR: VOTARAS EM QUEM TRAIU GETULIO ? ENTÃO NÃO VOTARÁ EM HUGO BORGUI. VOTARAS EM QUEM FÊZ TUA TERRA MARMITA DE AVENTURAS ? ENTÃO NÃO VOTARA EM HUGO BORGUI.
Lucas Nogueira Garcez e seu vice Erlindo Salzano, estavam confiantes.
Garcez tinha certeza da vitória, por estar na chapa encabeçada por Getulio, “Quem votar em Getulio votará automaticamente em mim , dizia.”
Hugo Borgui, achava que “esclarecido por Deus, o povo escolherá o melhor candidato” ele que tinha a esperança de vencer. Seu candidato à vice era Ataliba Nogueira, e estavam vinculados na coligação, PTN, PRT, PST.
Já Francisco Prestes Maia, dizia: “Tudo é possível que aconteça nesta eleição.” Ele acreditava que o pleito se caracterizará por inúmeras irregularidades, mas estava absolutamente certo da vitória, ele que era da coligação, UDN, PSD, PR e tinha como vice Lineu Prestes.
As pesquisas davam na capital paulista a vitória de GETULIO 52,8 %- Brigadeiro Eduardo Gomes, 27,8 % Cristiano Machado 12,3 % e João Mangabeira 7,1 %. Já no interior Getulio tinha 43,2 %- O brigadeiro 32,7-, Cristiano. 17,5 % e Mangabeira, 6,8 %.
Para governador Prestes Maia tinha a preferência dos eleitores nas pesquisas, 41,2 % - Garcez, 31,5 – Borgui, 22,6 na capital.
Já no interior, Prestes Maia tinha 36,5 – Garcez – 33,2 – Borgui 23,4.
Já Ademar de Barros, que não podia concorrer a senador como era de sua vontade, por não ter se desicompatibilizado na data determinada pela justiça, anunciava que iria processar os jornais, O Estado de São Paulo e o Diário de São Paulo, pelas torpes acusações caluniosas feitas contra ele.
Veio o dia da eleição, e lá estava eu, com meus 11 anos de idade, na rua Joaquim Floriano (Itaim bibi) em frente ao grupo escolar Aristides de Castro, com uma caixa de sapatos com barbante no pescoço, distribuindo cédulas
(A boca de urna de hoje) Eu circulava entre as, rua Arnaldo (hoje Uruçui) e rua tapera (rua hoje Bandeira Paulista) já perto das cinco horas da tarde, já por findar a votação cheguei para um senhor alto magro e careca e fui lhe dizendo.
“Senhor estou te oferecendo a chapa do Getulio,” ele olhou pra mim, com cara de cínico, tirou a dentadura de cima, e sorrindo disse: “Porque vou querer a chapa do Getulio, seu tenho a minha.” (dentadura era, chamado de chapa)
No dia seguinte as urnas foram abertas, e como era de se esperar Getulio Vargas venceu com ampla folga. 49 % dos votos foram endereçados a ele, num total de 3.840.040, 49% dos votos validos. Em segundo ficou o Brigadeiro Eduardo Gomes com 2.343.384 votos (30%)—Cristiano Machado veio a seguir com 1.697.193 votos. 22 % . A UDN ainda tentou impedir a posse de Getulio, alegando que a constituição exigia do vencedor a maioria absoluta. Apelou ao Tribunal Superior Eleitoral, mas não foi atendida. Entre as forças armadas também havia certa tensão. Os principais chefes militares, entretanto declararam que respeitariam a decisão da justiça eleitoral. Zenobio da Costa segundo Samuel Wainer , chegou a puxar a espada e declarar: “O Exercito dará posse a quem vencer”. O resultado das urnas evidenciava de maneira eloqüente a popularidade de Getulio e o sucesso de sua campanha populista. Porem ao chegar ao palácio do Catete, no dia 31 de Janeiro de 1951, ele tivera de fazer muitas dividas políticas.
Marino Pinto e Haroldo Lobo, compuseram a musica,
O RETRATO DO VELHO,uma musica saudando a volta de Getulio ao poder em 1951. Que dizia assim, no seu trecho inicial, BOTA O RETRATO DO VELHO OUTRA VEZ. BOTA NO MESMO LUGAR. EU JÀ BOTEI O MEU, E TU NÃO VAI BOTAR ? O SORRISO DO VELHINHO, FAZ A GENTE
TRABALHAR.
.........................................................1953 a campanha do Petroleo é nosso.
...................................................................................O dinheiro circulante da era Getulio